Um velhote franzino e desengonçado, trajando uma veste semelhante a uma túnica, que um dia fora branca, mas que no momento estava cor de terra, carregando um imenso ovo entre os braços com muito esforço, encolheu-se e enfiou-se dentro de um buraco estreito, situado em um ponto de uma montanha.
Lá dentro era oco e formava uma espécie de sala, onde na verdade era o laboratório desse velhote tristonho, chamado Rude... cientista Rude.
O laboratório era simples, nada muito sofisticado, com algumas prateleiras aqui e outras ali. E notava ser um laboratório improvisado, montado de última hora, pelo fato de existir materiais espalhados pelo chão, além de alguns enfiados em sacos pretos e que ainda não haviam sido retirados.
As prateleiras chegavam ao teto, sendo que o interior daquela caverna não era muito alto. Tinha cerca de dois metros e meio. E havia ali dentro um cheiro nauseante: uma mistura de terra molhada com inseticidas. E havia também uma escada móvel de alumínio encostada num canto, que necessariamente esse cientista precisava — já que era baixo, devendo ter no máximo um metro e meio — para pegar algum dos materiais de uso que ocupavam-nas. Livros grossos e empoeirados, alguns frascos contendo líquidos coloridos e outros utensílios estranhos, porém tudo muito bem organizado.
Também havia um suporte em um canto próximo as prateleiras, servindo de apoio para um microscópio empoeirado.
Esbaforido, Rude repousou cautelosamente o ovo em uma mesa retangular, forrada por folhas secas e gravetos, onde em cima, no teto, existia uma lâmpada com formato de cilindro, que fora uma de suas criações, gerada por meios de raios solares, que mesmo estando à noite, podiam continuar acesas, graças a um método de armazenamento de luz. E não demorou muito, o ovo começou a trincar sobre a mesa de pesquisas.
Rude levou um baita susto ao ver que o ovo rachava vagarosamente, com algum ser lá dentro tentando se libertar. O cientista nem piscava. Entrou em transe quando viu o que se encontrava já fora do ovo. Ao mesmo tempo, ficou espantado e impressionado.
Era um filhote de Águia-americana[1], sendo que não era um filhote comum, pois media aproximadamente meio-metro. Mas fora isso, aquele pássaro tinha todas as características específicas de uma Águia, sendo tão linda e esplêndida.
Rude soltou um riso e exclamou perplexo:
— Meu Deus! Como é que pode?
Mas, de súbito, empalideceu ao ver um detalhe espantoso naquele filhote, além de seu tamanho demasiado. Aquele ser, apesar das meras semelhanças com a espécie Haliaetus leucocephalus, já nascera possuindo garras extremamente afiadas. E elas se moviam lentamente, banhadas por um líquido baboso e, além disso, o observava com aqueles olhos austeros. Só aí então que ele pode notar que aquela Águia não era de uma espécie comum.
Rude deu um passo para trás, quando viu que aquela ave, mesmo pequena, levantava as asas, permanecendo em pé sem nenhum esforço sobre a mesa de pesquisas. E olhando aterrorizantemente para ele, abriu um enorme bico.
Não deu tempo nem para o cientista correr, a Águia voou sobre o pescoço dele.
[1] Haliaeetus leucocephalus (nome científico) também conhecida por águia-careca ou águia-de-cabeça-branca. Ela é uma águia nativa da América do Norte e o símbolo nacional dos Estados Unidos da América. Facilmente reconhecida pela cabeça, pescoço e cauda brancos, enquanto que a maior parte do corpo apresenta penas marrons.